sábado, 1 de agosto de 2015

Dimitri pediu um J&B. Deparou-se com aqueles olhos azuis profundos e sentia a felicidade pulsar dentro de si. Instalada em seu ser como uma chama. Aquela é a menina mais bonita da cidade. E era só dele nessa noite.


"Dancing Queen" tocava. E eles, timidamente, se mexiam conforme o ritmo da música. Daniel odiava dançar, mas algo o arrastou para a pista. Ela, por sua vez, o achava muito bonito. Tão sofisticado e cordial. Ambos esbanjavam mistério e dor. Adriana pousa a cabeça em seu ombro. Ela chora.


Eles transaram em uma noite escaldante. Vítor estava nu, fumando um cigarro e observando da janela a rua pouco movimentada.

- deviam pintar você - comentou Daniel fascinado.

- o quê?

- alguém devia pintar você.

Vitor jogou o cigarro fora.

- estou cansado de trabalhar naquela casa - disse ele se juntando a Daniel na cama - vamos virar modelos.

Daniel sorriu com o absurdo.

- eu não posso ser modelo.

- claro que pode. Você é lindo. Vamos fugir.

E eles começaram de novo, famintos e insaciáveis. Vitor masturbava Daniel enquanto o penetrava com os dedos e depois de fazê-lo gozar ordenou que Daniel fizesse o mesmo nele.



Evelyn passara a festa inteira observando a todos com os olhos. Suas mãos tateavam no escuro, á procura de algo, ela não sabia o que era.

Quando o show terminou ela foi convidada por um desconhecido para ir até a sua casa. Não sentia a menor vontade de transar, mas que se dane. Talvez fosse divertido.

A banda e mais algumas garotas caminhavam pelas ruas. Evelyn começou a chorar. Fumava um cigarro enquanto as meninas cantavam a última música que eles haviam tocado.



Eduardo estava em seu quarto, na frente do espelho, passando batom. Usava uma meia calça preta rasgada que havia roubado da avó. Uma saia azul, sapatos vermelhos e um casaco de pele. Não iria usar aquela camiseta xadrez e careta que a mãe havia sugerido. Provavelmente ela o faria colocar por baixo da calça. Nem pensar.

Para evitar insultos, pulou a janela. Na rua, passou um grupo de meninos por ele. Começaram a chamá-lo de viado, bicha e outras coisas. Ele ignorou com todo o glamour.



Lorenzo estava cansado e decepcionado.

Não seria mais aquele idiota. Agora pensaria apenas nele.

Decidira ser o que todas as garotas gostariam de ter. Não mais perderia seu tempo com uma menina que nem ligava para sua existência. Seu interesse por Lia havia morrido. Ele sentia-se sozinho. Sabia o que queria.


Passaram-se arrastados os minutos e ela adormecia por causa do vinho. Decidiu ir até a biblioteca fumar um charuto escondido. Abriu a porta e viu Vitor, seu amor proibido, com Daniel, aquela coisinha insignificante.

Vitor estava deitado de bruços, tinha as calças abaixadas e gemia de dor enquanto Daniel, virado para o outro lado, de joelhos e completamente vestido, o penetrava com os dedos.

Boquiaberta, fechou a porta. Voltou para a sala de jantar e juntou-se aos demais. O estomago embrulhado, ela tinha vontade de vomitar.

Como é divertido polemizar.


Era dia de discoteca.

A festa estava ótima. Tiago e Evelyn dançavam enquanto "More than a woman" tocava e William, os observava, do outro lado do salão, furioso.

Pra que tanto ódio mell dells?

Lorenzo chegou na festa com Vinicius certo de que ele e Chiara ficariam juntos novamente. A noite passada havia sido uma delícia. Ele ficava excitado só em pensar em transar de novo, mas sua alegria logo o abandonou ao ver a própria dançando com Douglas na pista de dança. Ele percebeu pela linguagem corporal dos dois que haviam retomado o namoro. Não podia acreditar.

Douglas odiava música disco. Ele era mais do tipo rock'n'roll. Só ia na discoteca por causa das garotas.


- tudo vai ficar bem - disse Lorenzo depois de Chiara confessar o quanto estava preocupada com a amiga. Eles deixaram o hospital e foram para a mansão. Os pais de Lorenzo estavam dando uma festa. Eles cumprimentaram a todos e sem que ninguem percebesse subiram para o quarto.

- já esperei tempo demais - disse ele enquanto tirava a sua saia e colan. Ela estava deitada de costas enquanto ele deslizava a língua sobre o seu sexo. Logo começou a gemer de prazer e depois de gozar deixou que ele a penetrasse.



William observava Henriqueta dormindo nua na cama. Ele ascendeu um cigarro e sentou-se no parapeito da janela para observar o movimento da cidade.

Lembrou-se dos primeiros anos, onde sonhava em ser o homem mais poderoso do país. Agora era como se a ambição o tivesse abandonado e só restasse o narcisismo. Ele não se importava com mais nada.



Douglas mal poderia esperar para foder sob o efeito do branco.
- essa é Vivianne - disse ele a Tiago - e essa é a Clara.
Eles entraram no apartamento minúsculo. Tiago ficou com a Clara.
- vai para a faculdade agora? - perguntou ela depois de tirar toda a roupa e sentar-se na cama
- não sei
- mas já terminou o ensino médio né?
- sim.
Tiago tinha as mãos entrelaçadas e olhava para baixo. Sentia-se desanimado, mas desconhecia o motivo.
- quem sabe eu coloco uma música?
"TVC 15" começou a tocar na vitrola. Clara juntou-se a ele novamente na cama e começou a separar as carreiras. Douglas e Vivianne transavam no quarto ao lado.
- odeio esse apartamento - confessou ela sorrindo - dá pra ouvir tudo.


 
 


Daniel nunca teve facilidade em adormecer, mas sentia que o motivo para tanta inquietação era outro. Ele odiava o verão. Aquela atmosfera calororosa o deixava irritado. Estava escutando "A taste of honey" no toca-fitas e começou a chorar.

Tirou os fones do ouvido e fechou os olhos. De repente, escutou um barulho vindo de fora da casa. Levantou-se da cama e abriu a janela. Era o Vitor nadando na piscina. Nu.

Se viu excitado ao vê-lo tão belo e erótico. Livrou-se da calça de pijama. Tocou o seu sexo e o acariciava gentilmente.

Sua medíocre vida era repleta de pesadelos e sonhos despedaçados. Vitor era o fogo, a luz irradiando na escuridão.

Ele foi, guiado por um desejo ardente, que nunca sentira antes.

 


Tiago e Douglas assistiam a "Um soutien para o papai" no cinema. Haviam alguns casais por perto. Ele até considerou a possibilidade de convidar Evelyn, mas não sabia ao certo se ela teria o interesse.

Douglas ascendeu um cigarro. Tiago comia um Zambinos.

- quem inventou essa merda? - indagou Tiago aborrecido, com a boca cheia - já são vinte minutos e não vi nenhuma boceta.

Alguém na plateia diz para ele ficar quieto. Ele manda o desconhecido se foder.



Existe essa sensação deliciosa quando estamos no início do ano. Como se tivessemos as energias renovadas e todo o desgaste emocional fosse substituído por uma esperança imbatível. Talvez fosse só uma armadilha do universo, mas acreditar é mais importante do que ser.


A meia noite chegou. Era a década mais quente e doida de todas. Onde nossos adoráveis personagens se encontravam fumando charutos e bebendo uísques caros enquanto se afogavam em deleite, as noites escaldantes serviam de cenário. A santidade dormia, e eles gozavam.

Viam os fogos de artifício surgirem e desaparecem na escuridão do céu. Entornando as taças de champagne, eles celebravam.


A festa lembrava Daniel do carnaval em Roma, que Poe descreveu em um dos seus contos favoritos. Era interessante usar máscaras. Ele gostava de esconder o rosto.

Imaginou que todos poderiam estar nus, entre vinho e orgias, e ele, de terno, as pernas cruzadas, os óculos escuros, o voyeur que ninguém amava, queimando o cigarro na língua.

 


Para a chegada do ano novo, nada como um baile de máscaras.

Não era divertido e colorido como a discoteca, mas era tão sofisticado e irresistível que não tinha como passar a virada em casa assistindo televisão.


- que tal se a gente fosse pro seu quarto?

- mas eu estou gostando da festa.

- qualé xixizinha!

Eles subiram. Evelyn colocou o disco do Suicide na vitrola.

- nunca ouvi falar dessa banda. É boa?

- é ótima.

 


Oh girl, turn me on

Evelyn não conseguiu se conter e logo começou a rebolar, tirando a roupa para Tiago.

Então eles começaram a divertir de verdade.

- você é tão gostosa - gemeu ele enquanto Evelyn, em cima, se mexia conforme o ritmo da música.

 


No filme, o frankenstein passa a observar uma moça loira penteando seus cabelos. Ela o vê e começa a gritar. Ele quebra a janela do seu quarto e a ataca.

Evelyn esta nua da cintura para baixo, deitada no banco de trás enquanto Tiago a golpeia com seu sexo.

Ele sabia que era a primeira vez dela. Evelyn parecia insegura, inexperiente. Mas ela só fingia. Percebia que os homens gostavam mais dela se acreditassem que nunca tinha feito sexo na vida. Uma idiota.



- (...) Me diga. O que o faz feliz?

- minhas fantasias.

- pode me contar sobre alguma?

- não.

- por que não?

- por que é muito... pessoal.

- sinto no dever de lhe lembrar Daniel, que tudo que você fala aqui é confidencial. Pode me contar qualquer coisa. Não vou julgar.

Daniel refletiu por um momento.

- bem... imagino que estou assassinando o meu pai.

- compreendo - disse o doutor. Ele parecia não ter gostado da resposta - e você sente algum remorso por isso?

Ele deu mais uma tragada no cigarro.

- não.



- ai, eu queria ter vivido nessa época! - suspirou Evelyn

- que época?

- essa da novela. Lá pelos anos 50, 60.

- por que? - indagou William estranhando

- sei lá... as pessoas pareciam mais felizes. Essas festas... esses vestidos... gostaria de ter tudo isso. Definitivamente eu nasci na época errada.


De volta a sala de estar, Daniel se deparou com uma mulher sentada junto deles.

- oi - cumprimentou. Procurava aparentar maior normalidade possível.

- mas que rapaz bonito! - disse ela se levantando e passando as mãos sobre seus braços - como cresceu Daniel! Está um homem! E que bonito você é!

Daniel descobriu-se excitado. Percebeu pelo canto do olho que Nina o olhava indignada. A mãe dela tinha hálito de café e cigarros. Daniel teve vontade de beijá-la.



Aída Curi era uma banda que copiava o estilo dos New York Dolls e só fazia covers. É que nenhum dos músicos sabia compor e nenhum produtor se interessou em gravar um disco deles. Mas a maioria dos desbundes curtiam.

Eles começaram a tocar "I wanna be your dog". Douglas adorava aquela música. Tinha tudo a ver com ele.
 

Absinto era um porão sujo e decadente onde os desbundes se encontravam para fazer um estrago.

Douglas chegou em sua moto. Havia acabado de concertá-la e tudo que queria era andar com ela por todos os lugares. De preferência com uma gata na garupa.

E logo ele a avistou na multidão. Uma moça muito bonita. Seus longos cabelos negros e seu corpo escultural combinavam perfeitamente com seu visual hippie chic.

Estava sentada no colo de um cara que, ao que parecia, não era merecedor de tamanha beleza. Alguns garotos estavam ao seu redor. Todos usavam jaquetas de couro. Pareciam uma gangue do filme O selvagem.



Estava debaixo da água, os olhos fechados, a imaginação a fluir. Então Rimbaud surge e o beija. Eles ficam no fundo da piscina, fazendo amor para sempre. Não existia dor nem rejeição. O mundo não importava. Só aquele universo particular repleto de amor e gozo.



Amanheceu. Douglas acordou com os cantos dos passarinhos. Os raios de sol a iluminar seu lindo rostinho. Sentia um cheiro de vômito penetrando em suas narinas. Estava deitado ao lado de uma garota desconhecida.
 

Então, como um típico maluquete, tirou toda a sua roupa. Algumas pessoas o viram e começaram a rir. Ele correu e deu um pulo na piscina. Estava deliciosamente gelada. O pessoal se aproximou e, entre risadas, cerveja e cigarros, se despiam. Não estavam nus. Nem todos tinham a coragem de Tiago. Em minutos, estava quase todo mundo na piscina rindo e se divertindo.
 

Era um rapaz carismático, do tipo que todo mundo gosta. Os cabelos loiros e encaracolados o destacavam dos demais. Também era bonito e popular como a maioria dos nossos personagens. E, assim como todos os outros, sempre adoecia de tédio naquela cidadezinha.

Era um sábado e fazia muito calor. Ele ascendeu um cigarro e tragou satisfeito. Estava diante da piscina. Logo haveria pessoas bebendo, fumando e se divertindo em sua casa. Ele adorava se sentir um freak. Era só o que queria da vida.



Depois do jantar, tomava café enquanto lia Rimbaud. Estava muito apaixonado por aquele poeta lindo e loiro. Nunca conseguia domir por causa da cafeína, mas não se importava. Por que quando finalmente adormecia era assombrando pelos piores pesadelos.


Então tudo escurece.

"Queimo como deve ser". As palavras ardiam dentro dele. Queria apenas sonhar e nunca mais despertar. A realidade era dolorosa demais.


Celestin era um lugar incomum. Calorosa e aconchegante, os verões eram quase insuportáveis. Não haviam muitas opções exceto ir ao drive in fingir prestar atenção no filme, ir a discoteca fingir que era só pra dançar e ir ao shows do Aída Curi fingindo que eles não estavam imitando os New York Dolls. Mas tudo bem. Eram os anos 70. Excesso, pecado, luxúria. E outras coisas.

Tudo começou quando a sineta tocou pela última vez.

O barulho ensurdecedor sempre costumava irritar a todos, mas agora era diferente. Eles estavam livres. Nunca mais iriam precisar colocar os pés naquela escola. "No more school or mommy for me" e eles, voluptuosos, pecaminosos, serpenteavam pelos corredores.

Em algum dia desses, essas paredes se fariam em chamas, deixando nada além de tristes lembranças.

As férias finalmente haviam chegado. Agora só existiam dias ensolarados acompanhados de deliciosos banhos de piscina. O drive-in estava sempre lotado. A discoteca repleta de vultos coloridos embriagando-se na pista de dança. Agora era só curtição.

Para essa festa, estão todos convidados. Disco lovers e punk rockers. Caretas e desbundados. Ninguém é inocente. Não há nada que eles não possam agarrar.